9 de maio de 2014

A fuga

Corria sentindo o ar frio da noite cortar sua pele. Corria levando consigo folhas secas e uma árdua angústia. Corria o mais rápido que suas pernas finas e cansadas conseguiam. Seus braços, coxas e barriga nus tinham arranhões feitos pelos galhos apressados dos arbustos. Sua respiração ofegante fazia seus pulmões arderem e sua visão ficar turva. Sentia seu coração falhar só de pensar em olhar para trás. A lua era nova e mal conseguia iluminar o chão a sua frente, apenas feixes de luz penetravam as copas dos robustos carvalhos e compridas faias. Seus pés doloridos tropeçavam em tocos e raízes dobrando e dilacerando seus dedos. Sequer pensava em parar mas teve que faze-lo ao dar de cara com um pesado galho baixo de carvalho que a fez cair de costas. As batidas acereladas de seu coração agora eram tudo que podia ouvir e sentir. Seus olhos, mesmo temerosos, se fecharam e não voltaram a abrir.

Doce mas ácido

Para ela o silêncio tornava o ar pesado e gelava suas mãos. Para ele o silêncio comprimia seus pulmões e corroía suas entranhas. E o que aconteceu depois foi um beijo que nem mesmo os dois vão se lembrar com detalhes.
Dentro daquele mundo que eles criaram o tempo passava lentamente. Beijos, abraços, olhares, promessas e, não faltariam, os erros.


Quanto mais o tempo se passava, mais ele queria estar com ela. Quanto mais os dias se passavam, mais amedrontada ela ficava. Mas o que restou daquele mundo ermo os dois se lembrarão pro resto de suas vidas, pois o que sentiam era real. Aliás, a única coisa real que ela sentiu.