16 de julho de 2015

A espera

Os olhos dele que antes observavam a distância se encontram fechados
As mãos que balançavam soltas no caminhar estão ocupadas tateando na penumbra
A boca que sorria ao se aproximar está semiaberta e vermelha de fricção
A pele que dormia por baixo das roupas se encontra nua e escorregadia de suor

Mas a garota que tanto esperava por esse dia ainda espera.


19 de maio de 2015

Abismo sereno

Tateando entre inúmeros beijos, mordidas e hálitos quentes
Vagando entre abraços, suspiros e sussurros incompreensíveis
Meus olhos abertos, curiosos, só conseguem insípidamente expressar
Que me perco em amores menores na busca do seu toque já desconhecido
Almejo um dia encontrar a porção de pele que me foi arrancada
E mesmo a beira do abismo, onde toda a esperança parece ter me escapado entre os dedos
Minha alma transborda serenidade, meu morno sangue continua fluindo

(19052218)

24 de março de 2015

Dormência

Era quase enlouquecedor. O barulho dos carros apressados na rua, o grito exagerado das crianças brincando, o vizinho do andar de cima arrastando os móveis. Sempre as mesmas coisas, os mesmos lugares, pessoas, sons, cores. Tudo sempre com aquele gosto amargo. Ela sentia os músculos contraírem e enfiava as unhas na coxa na esperança de que aquela sensação passasse logo. O maxilar ficava dormente com a pressão da mordida que dava sem perceber. Escorada na sacada do apartamento Bianca acendeu um cigarro e cantarolou aquela música do Led que acalmava seus nervos. O fedor da fumaça misturado com o de terra molhada embalavam um vai e vem em seus quadris, como uma mãe embalando o próprio filho. Sua cabeça balançava levemente de um lado para o outro e com os olhos fechados ela sentiu por leves segundos o alívio que o nada traz. Era pouco, mas o suficiente para aguentar o próximo dia.