No início as mídias comunicavam
os desaparecimentos sem muito interesse apenas colocavam uma foto do
desaparecido, a data e o local. As pessoas se assustavam, mas com a correria do
dia-a-dia se esqueciam. Uma semana depois o número de desaparecidos dobravam e
as teorias eram muitas. Um golpe de estado, uma queima de arquivo, abduções
alienígenas e os mais religiosos acreditavam que fosse o arrebatamento. Eu
mesma acreditava em tudo que fizesse algum sentido. As pessoas por todo país se
tornavam histéricas e perigosas. As escolas fecharam as portas, assim como
muitas empresas. As famílias se trancavam em casa com medo de perder os entes
queridos. Os amigos ficavam em contato constante tanto por telefone quanto pela
internet.
Quando o país finalmente declarou
estado de sítio, já era tarde. Mais da metade da população estava desaparecida
e o pior, não havia rastros. As pessoas desapareciam da noite para o dia. Mães,
avós, pais, filhos. Vidas bruscamente interrompidas. Um vizinho chegou a
relatar aos prantos que estava de mãos dadas com suas esposa quando sentiu um
vazio em sua mão e virando-se confirmou para sua mente o que
seu coração já sabia. Desaparecida. Ninguém conseguia consolar ninguém. Minha
mãe passava o dia calada, meu marido ficava juntando todas as notícias que
encontrava sobre os desaparecimentos e eu quando não estava de frente a TV
colocava algumas músicas para acalmar os ânimos. Era como se estivéssemos todos
em estado terminal sempre grudados uns nos outros. Brigavamos muito pouco e
estávamos sempre demonstrando nosso afeto. Todas as noites, como um ritual, nos
abraçávamos e minha mãe fazia uma oração. Deitávamos na mesma cama e ficávamos
conversando sobre memórias antigas esperando o sono chegar. Até que um dia eu
acordei sozinha.
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